Esse pensamento
atravessa a minha mente algumas vezes por dia desde os últimos 7 meses.
As pessoas me
perguntam diariamente: “Como você está?”
“Estou ótima!” –
respondo sempre.
É verdade. Estou
ótima! Como não estar? Vou ter um filho.
No começo as pessoas
me perguntavam: “Ele já tem enxoval?”
E eu dizia: “Não...
ele só tem livros!” – e eu dava risada (Prioridades, né?). E assim foi por uns
5 meses, até que comecei a comprar coisinhas.
A mãe (a minha, não
eu) sempre desesperada: “Mas não tem nada! O menino vai nascer e vai ficar nu!”
“Qual o nome dele?”
“Ravi!”
“Que lindo! Diferente!
Adorei! E quando ele vai nascer?”
“Quando ele quiser!”
“Ah, vai ser parto
normal?”
“Com certeza!”
“Você tá sentindo
muito enjoo?”
“Nenhum!”
“Puxa, que sortuda!”
“Você vai trabalhar
até quando?”
“Até quando eu
conseguir!”
“Já comprou móveis?”
“Ainda não...”
A mãe dizia: “Meu
Deus! Não tem móveis! Ele vai dormir onde?”
“Em meu colo, em minha
cama, em um bercinho portátil...” – eu respondia.
“E se o seu médico
viajar?”
“Ele não vai.”
“Tem perigo dele
nascer no carnaval?”
“Por que perigo? Não
entendi...”
(Mãe é sempre a que
fica MAIS angustiada né? Deve estar no manual das avós. Haja paciência, meu
Senhor.)
Compramos móveis,
finalmente, às vésperas de completar 34 semanas (7 pra 8 meses, nunca sei
direito contar em meses). Berço e cômoda para pronta entrega, mas armário só
mais tarde. Talvez até ele já tenha nascido quando o armário chegar. O pai (o
meu, não o do bebê) repetindo sem parar na loja: “Comeu mosca... se passou no
tempo...”
“Mas ele vai
sobreviver no início da vida sem o armário... eu garanto!”
Hoje um moço veio em
minha casa e montou o berço e a cômoda.
Sentei na poltrona que
uma amiga queridona me repassou, onde ela amamentou o filho incrível dela por 2
anos. Olhei ao redor... aquele berço, aquela cômoda... um cheiro gostoso de
móveis novos. Medi todas as paredes, refiz a configuração dos móveis na mente
para quando chegar o tal armário (e ainda tem uma cama). Peguei 2 enfeitinhos
que estavam guardados no meu armário esperando para ornamentar o quarto.
Coloquei lá... sentei de novo... e olhei, olhei... Aquelas letrinhas em cima da
cômoda dizendo RAVI.
Como posso não estar
ótima? Eu tenho o SOL brilhando dentro de mim. Ele se remexe no ritmo ragatanga
todo santo dia, me lembrando que ele está em mim mas já independe de minhas
vontades. Ele se mexe quando quer, chuta minhas costelas, se encosta todo do
lado direito até eu empurrá-lo de volta dizendo: “Calma aí, menino! Assim dói!”.
E daqui a menos de 2 meses ele vai estar preenchendo tudo. Tudo isso. Esse
berço, essa cômoda, esse armário que ainda não chegou, essa poltrona, os meus
braços, as minhas tetas, o meu coração. Eu não consigo mais nem pensar em uma
brecha aberta na minha vida nesse momento porque a sensação que eu tenho é que
não haverá brecha logo mais.
As pessoas seguem me
fazendo tantas perguntas para as quais eu não tenho resposta. Agora eu tenho
respondido sempre a mesma coisa: “Eu vou deixar fluir...”
Como posso saber que
dia exatamente ele vai querer nascer? Onde ele vai dormir? De quantas em
quantas horas eu vou amamentar? Se vou dar-lhe todas as vacinas? Eu nem o
conheço ainda. Eu nem sei qual é a cor do cabelo dele, o tamanho dos dedos dos
pés, se ele vai chorar ou dormir ou contemplar a vida a noite toda, se vai
gostar das cores que escolhi pro quarto dele. Eu vou deixar fluir. Eu vou ser
mãe. Ele vai ser filho. A gente vai se entendendo aí nessa estrada. Eu vou
escutar, sentir, cheirar, lamber, chorar, rir, na medida do possível, quando
for necessário, em “livre demanda” como diz o atual clichê amamentístico.
Porque afinal... como posso ter respostas para coisas que eu nunca
experimentei?
Por enquanto eu só
escuto músicas e choro copiosamente em todas (sem brincadeira) porque cada
pedacinho que relata algum amor profundo e inenarrável me faz pensar nesse
bacuri dançarino e a coisa vem sem controle até transbordar. É muito doido.
E penso que tudo o que
ele precisa de verdade ele já tem. Mãe, pai, amor até dizer chega, um lar de
verdade, 2 peitos nervosos mas ansiosos pra amamentar, um gato brincalhão, uns
livros, uns paninhos... uma cúpula de proteção invisível, mas bem sólida, de
avós e tios e tias e tios-avós... mas totalmente aberta para aventuras e
descobertas eternas. E muito colo para voltar das quedas e muito beijo para
afagar a alma.
As perguntas não me
incomodam. Juro. De forma alguma. Entendo que perguntas para grávidas são
limitadas, a gente não tem muito para onde ir além dos enjôos e móveis e bodies
e peitos e leite. E também nunca me incomodou as pessoas pegarem em minha
barriga. Ao contrário. Eu deixo, eu adoro. Meu filho é querido, acariciado e
desde já está entendendo que o bom dessa vida é ter gente perto da gente, é
contato físico, beijo, abraço. Também temos muita sorte nesse quesito, pois
todos nos respeitam, respeitam nosso espaço, pedem permissão. “Posso pegar na
barriga?”, “Pode! Claro!”.
Também não romantizo o
parto, nem a amamentação, nem o pós-parto. Sei que é loucura. Sei que pode
haver um trecho meio obscuro no meio do caminho que eu vou ter que atravessar.
Mas eu sei que ele existe e isso basta para eu entender que não há outra
alternativa além de encarar.
Daí é isso... tô aqui
buxuda, pesada, com os pés doendo. Mas me sentindo plena, tranquila, certa de
que tudo está no lugar certo (exceto a cômoda que ainda vai para a outra parede
do quarto). Minha doula outro dia disse algo que eu achei muito interessante (Será
que foi ela mesmo? Progesterona faz nossa memória ir pro saco). Ela falou: “Algumas
mulheres na hora do parto gritam ‘Eu vou morreeeerrrr!’... e de fato elas vão!
Elas vão morrer para em seu lugar renascer uma outra mulher. Morre a mulher
solteira, sem filhos, e nasce uma mãe, uma pessoa totalmente nova e diferente.
É preciso morrer para deixar o novo nascer”.
Sendo assim, termino
esse mix de pensamentos meio desconexos embebidos em hormônios lhes dizendo:
estou pronta e ansiosa e muito disposta a morrer para logo em seguida renascer
nessa aventura doida que me aguarda chamada maternidade.
Eu vou ter um filho. E
eu não poderia estar mais nada além de ótima!
Uma lágrima escorreu e só sei te dizer isso!! Amo vc Ló, amo vc Ravi, amo vc Dan e vc tb Chico!
ResponderExcluirAi, que lindo, mas o comentário veio sem nome. Quem és tu?
ExcluirLindo amiga !
ResponderExcluirObrigada! Mas esse comentário tb está sem nome! Quem és tu?
ExcluirCoisa mais linda e emocionante poder saber sentir a essência explicita de um coração de uma mãe, ainda mais sendo de minha sobrinha querida, plena plena chorei com tanto amor exposto.
ResponderExcluirTe amo muito tio!!! Vc faz parte de tudo isso!
ExcluirMuito lindo Ló.Me emocionei. Que Ravi venha com saúde e que traga muita alegria pra você,Dan e toda a família. Bjs.
ResponderExcluirObrigada, obrigada! Mas não sei quem escreveu! Está sem nome! Comofaz?
ExcluirMe emocionei com o seu texto, ele me fez fazer uma viagem no tempo, para antes de a minha filha (Bianca) nascer. Eu tinha tantas expectativas. Diferente de você, eu me preocupei com vários detalhes do enxoval, fiz lista de tudo o que precisava comprar, berço, cômoda, cadeira de amamentação, x macacões de frio, x macacões de calor... imprimi lista da internet e fui, toda preocupada providenciar tudo, para que não faltasse nada para a minha pequena. Me preocupei com o parto, me preparei para o parto natural, que seria na banheira, com música, doula... Enfim, planejei cada detalhe de tudo...
ResponderExcluirMas a primeira coisa que a maternidade me ensinou é que a gente perde o controle de tudo, até da nossa pró pra vida.
Tive um descolamento de placenta que me obrigou a ter uma cesária de emergência. Minha filha odiava o berço e NUNCA dormiu nele. Grande parte dos acessórios que eu comprei foram inúteis. O que ela queria mesmo era meu colo, meu peito, meu amor 24 horas por dia. Foi uma experiência muito mais transformadora do que eu esperava.
Espero que seja maravilhosa para você!
Oi, Fernanda! A gente nunca tem o controle, não é mesmo? Por isso estou deixando fluir... sem criar expectativas, pois nunca sabemos quais os planos que a vida nos reserva. No fim das contas, você também já tinha tudo o que ela precisava: seu colinho, seu peito, seu amor, e nem precisou fazer uma lista dessas coisas, rs. Que lindo isso! Estou ansiosa para experimentar esse momento! Obrigada pela mensagem! Muita saúde para vc e sua filhota!
ExcluirMeu Deus, Lore!!! Que texto mais lindo! Meus hormônios não estão em ebulição como os seus, mas o sentimento é grande então também me emocionei. Quanta verdade, quanto amor. A mãe de Davi, já está aí. Já nasceu! Só desejo amor!!!!
ResponderExcluirQue coisa mais linda. Já imaginei Ravi no balanço de Ilhéus, numa boia estilizada na piscina, no Porto da Barra de sunguinha de bichinhos e ouvindo Miudinho pra dormir. Tio Rico já ama! S2
ResponderExcluirLó minha sobrinha q texto mais lindo ,nunca li algo tão forte ,verdadeiro e emocionante a sua felicidade de ser mãe, q o nosso Ravi ,venha com mta saúde.saudade te amo sua tia Sônia.
ResponderExcluirLindo! Amo vocês.
ResponderExcluirVi agora sua página, segundo texto lido e me vi diversas vezes em suas palavras. Maternar é a coisa mais divina desse mundo! Os hormônios nem falo! Haha coisa de Deus ��
ResponderExcluirBeijos