quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Meu Deus... vou ter um filho.




Esse pensamento atravessa a minha mente algumas vezes por dia desde os últimos 7 meses.
As pessoas me perguntam diariamente: “Como você está?”
“Estou ótima!” – respondo sempre.
É verdade. Estou ótima! Como não estar? Vou ter um filho.
No começo as pessoas me perguntavam: “Ele já tem enxoval?”
E eu dizia: “Não... ele só tem livros!” – e eu dava risada (Prioridades, né?). E assim foi por uns 5 meses, até que comecei a comprar coisinhas.
A mãe (a minha, não eu) sempre desesperada: “Mas não tem nada! O menino vai nascer e vai ficar nu!”

“Qual o nome dele?”
“Ravi!”
“Que lindo! Diferente! Adorei! E quando ele vai nascer?”
“Quando ele quiser!”
“Ah, vai ser parto normal?”
“Com certeza!”

“Você tá sentindo muito enjoo?”
“Nenhum!”
“Puxa, que sortuda!”
“Você vai trabalhar até quando?”
“Até quando eu conseguir!”

“Já comprou móveis?”
“Ainda não...”
A mãe dizia: “Meu Deus! Não tem móveis! Ele vai dormir onde?”
“Em meu colo, em minha cama, em um bercinho portátil...” – eu respondia.
“E se o seu médico viajar?”
“Ele não vai.”
“Tem perigo dele nascer no carnaval?”
“Por que perigo? Não entendi...”
(Mãe é sempre a que fica MAIS angustiada né? Deve estar no manual das avós. Haja paciência, meu Senhor.)

Compramos móveis, finalmente, às vésperas de completar 34 semanas (7 pra 8 meses, nunca sei direito contar em meses). Berço e cômoda para pronta entrega, mas armário só mais tarde. Talvez até ele já tenha nascido quando o armário chegar. O pai (o meu, não o do bebê) repetindo sem parar na loja: “Comeu mosca... se passou no tempo...”
“Mas ele vai sobreviver no início da vida sem o armário... eu garanto!”

Hoje um moço veio em minha casa e montou o berço e a cômoda.
Sentei na poltrona que uma amiga queridona me repassou, onde ela amamentou o filho incrível dela por 2 anos. Olhei ao redor... aquele berço, aquela cômoda... um cheiro gostoso de móveis novos. Medi todas as paredes, refiz a configuração dos móveis na mente para quando chegar o tal armário (e ainda tem uma cama). Peguei 2 enfeitinhos que estavam guardados no meu armário esperando para ornamentar o quarto. Coloquei lá... sentei de novo... e olhei, olhei... Aquelas letrinhas em cima da cômoda dizendo RAVI.

Como posso não estar ótima? Eu tenho o SOL brilhando dentro de mim. Ele se remexe no ritmo ragatanga todo santo dia, me lembrando que ele está em mim mas já independe de minhas vontades. Ele se mexe quando quer, chuta minhas costelas, se encosta todo do lado direito até eu empurrá-lo de volta dizendo: “Calma aí, menino! Assim dói!”. E daqui a menos de 2 meses ele vai estar preenchendo tudo. Tudo isso. Esse berço, essa cômoda, esse armário que ainda não chegou, essa poltrona, os meus braços, as minhas tetas, o meu coração. Eu não consigo mais nem pensar em uma brecha aberta na minha vida nesse momento porque a sensação que eu tenho é que não haverá brecha logo mais.

As pessoas seguem me fazendo tantas perguntas para as quais eu não tenho resposta. Agora eu tenho respondido sempre a mesma coisa: “Eu vou deixar fluir...”

Como posso saber que dia exatamente ele vai querer nascer? Onde ele vai dormir? De quantas em quantas horas eu vou amamentar? Se vou dar-lhe todas as vacinas? Eu nem o conheço ainda. Eu nem sei qual é a cor do cabelo dele, o tamanho dos dedos dos pés, se ele vai chorar ou dormir ou contemplar a vida a noite toda, se vai gostar das cores que escolhi pro quarto dele. Eu vou deixar fluir. Eu vou ser mãe. Ele vai ser filho. A gente vai se entendendo aí nessa estrada. Eu vou escutar, sentir, cheirar, lamber, chorar, rir, na medida do possível, quando for necessário, em “livre demanda” como diz o atual clichê amamentístico. Porque afinal... como posso ter respostas para coisas que eu nunca experimentei?

Por enquanto eu só escuto músicas e choro copiosamente em todas (sem brincadeira) porque cada pedacinho que relata algum amor profundo e inenarrável me faz pensar nesse bacuri dançarino e a coisa vem sem controle até transbordar. É muito doido.

E penso que tudo o que ele precisa de verdade ele já tem. Mãe, pai, amor até dizer chega, um lar de verdade, 2 peitos nervosos mas ansiosos pra amamentar, um gato brincalhão, uns livros, uns paninhos... uma cúpula de proteção invisível, mas bem sólida, de avós e tios e tias e tios-avós... mas totalmente aberta para aventuras e descobertas eternas. E muito colo para voltar das quedas e muito beijo para afagar a alma.

As perguntas não me incomodam. Juro. De forma alguma. Entendo que perguntas para grávidas são limitadas, a gente não tem muito para onde ir além dos enjôos e móveis e bodies e peitos e leite. E também nunca me incomodou as pessoas pegarem em minha barriga. Ao contrário. Eu deixo, eu adoro. Meu filho é querido, acariciado e desde já está entendendo que o bom dessa vida é ter gente perto da gente, é contato físico, beijo, abraço. Também temos muita sorte nesse quesito, pois todos nos respeitam, respeitam nosso espaço, pedem permissão. “Posso pegar na barriga?”, “Pode! Claro!”.
Também não romantizo o parto, nem a amamentação, nem o pós-parto. Sei que é loucura. Sei que pode haver um trecho meio obscuro no meio do caminho que eu vou ter que atravessar. Mas eu sei que ele existe e isso basta para eu entender que não há outra alternativa além de encarar.

Daí é isso... tô aqui buxuda, pesada, com os pés doendo. Mas me sentindo plena, tranquila, certa de que tudo está no lugar certo (exceto a cômoda que ainda vai para a outra parede do quarto). Minha doula outro dia disse algo que eu achei muito interessante (Será que foi ela mesmo? Progesterona faz nossa memória ir pro saco). Ela falou: “Algumas mulheres na hora do parto gritam ‘Eu vou morreeeerrrr!’... e de fato elas vão! Elas vão morrer para em seu lugar renascer uma outra mulher. Morre a mulher solteira, sem filhos, e nasce uma mãe, uma pessoa totalmente nova e diferente. É preciso morrer para deixar o novo nascer”.

Sendo assim, termino esse mix de pensamentos meio desconexos embebidos em hormônios lhes dizendo: estou pronta e ansiosa e muito disposta a morrer para logo em seguida renascer nessa aventura doida que me aguarda chamada maternidade.

Eu vou ter um filho. E eu não poderia estar mais nada além de ótima!