quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Faça terapia



Estava relendo meus textos.

Engraçado. A gente muda, né? Ainda bem.

Resolvi fazer terapia. Vou contar.

Em 2015 eu estava frustrada profissionalmente. Bastante. Chegou um momento em que comecei a me questionar sem parar se era aquilo mesmo que eu queria. Não era. Algo estava fora do lugar.
Era eu. Eu estava fora do lugar.

Saí em busca de outro emprego, algo que tivesse mais a minha cara, algo que me motivasse a acordar e sair de casa. Acho que o problema não era nem a minha profissão em si, e sim o lugar onde eu estava trabalhando, o clima, a falta de perspectivas, a falta de desafios, as pessoas que me rodeavam. Esse lance de energia, sabe? Rola muito comigo.

Busquei e consegui. Foquei no inglês que é minha segunda língua e com a qual eu sempre amei trabalhar. Foquei em crianças, com quem sempre tive conexão, acho que por carregar uma dentro do peito. Pedi para ser demitida do meu antigo emprego (nunca vou esquecer a cara de tristezinha do rapaz que me entregou a carta de demissão, colocando a mão em meu ombro e me perguntando se “tá tudo bem”. Tá, meu querido. Tá tudo ótimo!). Chorei. Abracei alguns. Parti.

E entrei num universo infantil bilíngue. Cada dia um novo dia. Cada dia um novo desafio. Uma mistura de emoções que acho que só entende quem tem criança perto. Imagina eu, então, verde nessa nova vida, com 18 pequeninos entrando numa escola bilíngue, 11 deles pela primeira vez. Três, quatro anos de idade e caindo de paraquedas numa sala colorida, com duas professoras falando outra língua. Foi um mês de enxugação de lágrimas, colo e afago. Eles estavam com medo, eu estava com medo. Mas caminhamos juntos. Não sei se era eu quem segurava as mãos deles ou se eram eles que seguravam as minhas. Só sei que deu muito certo.

Um ano de alegria e risada. Coisa mais linda de se viver. Mãozinhas aprendendo a usar lápis e tesouras, um mundo de descobertas. Eu descobria tudo junto também. Litros de tinta guache e cola. Quilos de papel colorido e purpurina. Nunca imaginei que rolo de papel higiênico tivesse tantas utilidades!  E no fim do ano, vejam só... todo mundo entendendo aquela língua maluca!

Acabou-se o primeiro ano. Chorei muito. Eu fui feliz demais.

Chegou o ano seguinte. Nova turma. Novos serezinhos.

Cara...

Os desafios foram muito grandes. Eu não estava pronta para aquilo. Levei uns tapas na cara, da vida e de crianças também, e foram esses últimos aí que me levaram pra terapia. Como lidar? Como conseguir me colocar no lugar do adulto e não deixar minhas emoções tomarem conta na hora do conflito? Lá estava eu aprendendo de novo com eles. Mas eu precisava de ajuda, senão não conseguiria ajudá-los.

Muita terapia. Muitas lágrimas. Todo aquele processo de buscar dentro de si as respostas que você já tem, mas que só enxerga quando o terapeuta te conduz até o interruptor. Muito louco.

O processo terapêutico me ensinou coisas muito úteis. No fim das contas, fui em busca de ajuda para resolver uma questão e resolvi muitas (psicólogos, vocês são foda).

Agora, relendo meus textos, eu vejo algumas coisas que eu consertei dentro de mim. Não totalmente, porque é difícil, né? Sempre ficam resquícios do que acompanhou a gente a vida inteira. Mas acho que o importante é que agora eu tô vivendo pro agora. Parei com a noia. Parei com o lance de viver exclusivamente com o pensamento no futuro... até porque o meu agora é o futuro de três anos atrás quando escrevi aqueles textos lá. Se eu não viver agora, eu vou viver quando? Hoje eu doso grandes pitadas do aqui e agora com pitadas comedidas e responsáveis para um logo ali mais adiante.

É isso. Acho que foi essa a mudança principal. Fora outras coisas importantes que vieram no pacote como parar de me importar muito com a opinião alheia (mas de vez em quando ainda derrapo nessa). Parei de me pré-ocupar demais. Aceitar o que eu tenho e quem eu sou foi um aprendizado enorme e libertador. E sigo assim.

Aprendi a controlar mais as minhas emoções e me conectar com as emoções das crianças. Na verdade, esse exercício é diário. Cada criança carrega um mundo em si. E esse ano voltei a ficar com a turma de dois anos atrás, a primeira de todas. Estão grandes e perdendo os dentes. Lindos e amorosos e ainda mais espertos que antes. Eu sou só admiração. (Derrubei muitas lágrimas também quando acabou o ano mega desafiador... mas foram lágrimas carregadas de muitos sentimentos diferentes.)

Agradeço às crianças que me levaram à essa busca de respostas. Crianças também são um enoooorme exercício de auto-conhecimento, auto-controle, amor e equilíbrio. Conviver com elas faz você refletir muito sobre a criança que você foi e o que seus pais fizeram por/com você. Terapeutas-mirins.

Em breve volto. Tenho muito a relatar. Esse tempo de silêncio foi um tempo rico em emoções.

Mas o amor, dentre todas, prepondera.