terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Da alegria de dançar



Fiz balé por cinco anos, dos 7 aos 12 e estendi pelo jazz até os 15, quando parei de vez. Durante os últimos 15 anos me aventurei por diferentes exercícios físicos como musculação, patinação artística, dança de salão, circo, esgrima, yoga... mas nenhum deles me deixou mais gostosa ou disposta ou feliz (tirando a dança de salão que me deixou apenas muito feliz). Então, este ano, aos 30, decidi voltar para o balé. Entrei numa aula de balé fitness, uma mistura de balé com ginástica localizada. E estava bem feliz. Então a escola abriu uma turma de balé iniciante adulto e eu me joguei. Foi a escolha mais acertada do ano.

Fazer uma atividade que lhe dá prazer e alegria é realmente maravilhoso. Entrei com toda a humildade permitida pelos meus dez quilos de ferrugem e, aos poucos, fui percebendo que o corpo se lembrava de algumas coisas.

Tenho uma colega fofa chamada Thelma, uma senhora cuja filha bailarina a convenceu de entrar na dança. Tem também Victor, um menino lindo que nunca fez balé, mas tem tanta sede de aprender que chegou a me dizer que "seria capaz de ficar o dia inteiro repetindo esses exercícios até conseguir". E tem Débora, uma menina bonita que deve ter mais ou menos a minha idade e, como eu, é uma regressa. Sem esquecer, claro, da professora Marília, linda e poderosa, com um astral fenomenal, que parece ter dentro do peito um saco infinito de alegria de ensinar. Professor que ensina com alegria é o que há!

Pois então, dois meses depois de retornar ao balé, Marília me convidou para participar do festival que seria no último fim de semana de novembro. Fiquei meio na dúvida, me bateu uma insegurança. O espetáculo seria O Mágico de Oz. Como poderia eu, depois de 15 anos, subir no palco e dançar de novo? Marília disse que eu seria capaz, que me colocaria em um grupo de adolescentes que estava ensaiando uma coreografia linda de "floresta". Pensei: perfeito! Nada melhor do que voltar a dançar no palco com pessoas que têm a metade de minha idade e ainda fazendo o papel de uma árvore! =P

No dia em que cheguei pensando em recusar o convite, Marília me olhou com um sorrisão e disse: "Que bom que você chegou! Não veio ninguém da sua turma, então vou lhe ensinar a coreografia!". E desisti de desistir.

Comecei a sair mais cedo do trabalho um dia da semana para conseguir ensaiar com o grupo inteiro. Eram pessoinhas realmente novas. Dei uma avaliada geral e conclui que a pessoa mais velha depois de mim devia ter uns 18 anos. Mas confesso que ali, no meio delas, meio que aproveitei a minha cara de menina e me camuflei de adolescente. Ninguém ousou duvidar. Também super disfarcei a minha dificuldade em executar alguns movimentos e fiquei aliviada quando descobri que, assim como eu, outras pessoas estavam ficando com os joelhos roxos por causa de alguns passos da coreografia em que era necessário ajoelhar-se. Não era velhice, eram só os ossos salientes.

A coreografia era fofa. Nada muito complicado como nas coreografias estupendas do programa Dance Moms que eu estou acostumada a assistir. Mas também nada bobo. Apenas o ideal para uma véia enferrujada.

Lá para as tantas, após alguns dias de ensaio, um grupo de zumba chamou Marília para ver a coreografia. Fui junto. Eram mulheres mais velhas, algumas da minha idade. A coreografia era tão enérgica que me cativou e eu quis muito dançar. O professor topou, Marília incentivou, e lá estava eu no meio da zumba, sem nunca ter feito uma aula sequer.

Os ensaios prosseguiram, se intensificaram, conheci os outros grupos, os demais alunos, e então descobri que estava em uma escola de dança incrível, com bailarinos incríveis e fiquei extremamente feliz. As coreografias eram lindas, os bailarinos excelentes. A cada salto e pirueta meus olhos brilhavam mais. Acho que ainda não é tarde demais para eu conseguir fazer um salto ou pirueta daqueles. Eu espero que não seja.

Pensei em não convidar ninguém para ver o festival além de meu namorado e minha irmã. Mas depois mudei de ideia. Convidei os amigos mais próximos. E lá fui eu com minha sacola cheia de maquiagem e gel de cabelo para o dia do festival.

Reviver a atmosfera de um festival de balé me fez lembrar de tantas coisas boas da infância, me deixou tão preenchida que eu tive a certeza de que jamais deixaria de fazer o que me faz feliz. Aquela deliciosa confusão nos camarins, os coques, os cabelos esticados com quilos de gel, as sapatilhas de fita, as maquiagens, o silêncio nas coxias, o frio na barriga segundos antes de entrar no palco, as luzes, os aplausos, tudo isso me fez sentir mais viva e completa. Ver a empolgação das crianças, os personagens da história com figurinos e maquiagem tão impecáveis, meio que me fez ser criança de novo. Dorothy, o Leão, o Homem de Lata, o Espantalho, foram me levando por aquele mundo de fantasia. Tudo muito lúdico, muito leve, muito lindo.

Quando terminou o festival e as cortinas se fecharam, é óbvio que chorei. Fui para o camarim me trocar, deixei todo mundo sair primeiro e fiquei por lá, ainda digerindo a emoção. Quando saí, encontrei Marília na porta e ela me perguntou com aquele sorriso de sempre: "E então? Como foi?". "Chorei de emoção!" respondi. "Claro! Foi o seu retorno, né?", ela disse, me compreendendo. Dei-lhe um abraço apertado e agradeci por ter me encaixado de alguma forma naquilo tudo. Ela me agradeceu por ter aceitado suas propostas.

Como não podia deixar de ser, quando cheguei do lado de fora, meus amigos em coro me aplaudiram e gritaram. Amigo é tudo nessa vida. Ganhei muito beijo, muito abraço, muitos parabéns e lindas rosas do namorado. E por mais que meu desempenho não tenha sido essa coisa toda, é claro que eles, como bons melhores amigos, disseram que fui a pessoa mais brilhante daquele palco. Faz parte.

Estou realizada, estou mais disposta, estou mais feliz. Eu já tinha me esquecido do quanto é importante fazer coisas que realmente nos fazem bem. Viver por viver na rotina de todos os dias é chato. Viver e fazer algo que lhe preenche de felicidade, isso sim é viver! Depois de anos dizendo que voltaria a dançar, finalmente eu voltei, e agora não pretendo sair nunca mais. Dançar é tudo de bom!

sábado, 1 de novembro de 2014

O riso



Nada no mundo, nem gente, nem bicho, nem festa, nem grana, preenche tão completamente uma casa como o riso. O riso é remédio da alma, é solução de problemas, é felicidade genuína descaradamente expressa. Tão bom quanto o riso é seu forte poder de contágio. Quem fica sério quando alguém está gargalhando? É impossível conter-se. Rir faz um bem danado!

Quem sorri muito é mais saudável. Sorrir faz bem ao coração, aos pulmões, ao cérebro, à pele. Sorrir afasta a depressão, eleva a autoestima e nos aproxima das pessoas. O riso acaba com brigas e birras, o riso é conciliador. Rir nos faz virar amigos de gente que a gente nem conhecia. O riso é a expressão do que há de bom dentro da gente. Quando não dá mais para segurar a felicidade, a graça, a alegria, a gente transborda em gargalhada!

Eu gosto de rir, gosto de gente que ri, gosto de fazer o outro rir e gosto instantaneamente de quem me faz rir. Rir é divino! 

O riso faz aflorar o amor na gente. Ontem fiz uma reunião em casa, com primos, namorado, irmã, pai e mãe. Em determinado momento, começamos a contar histórias engraçadas e então teve início uma sessão de gargalhadas que durou mais de uma hora. Eu estava na cozinha lavando uns talheres e quanto mais gargalhadas eu ouvia, mais feliz eu ficava e mais eu os amava. E foi então que instantaneamente associei o riso ao amor e conclui que quanto mais se ri, mais se ama. E quanto mais se ama, mais se ri.

Quero viver um ciclo interminável de amor e riso.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Ami, o menino das estrelas



Quando eu tinha 11 anos, minha mãe trouxe para casa um livro, emprestado de uma colega do trabalho, chamado "Ami, o menino das estrelas" (obrigada, mãe!). Eu lembro que li e fiquei maravilhada. Na minha cabecinha de criança, aconteceu algum "clic" que me fez refletir sobre muitas coisas. Nunca esqueci deste livro. Resolvi procurá-lo na internet para ver se conseguia comprá-lo. Para minha alegria, achei o livro inteiro em PDF e reli neste fim de semana. Então me lembrei porque eu fiquei tão empolgada aos 11 anos. Ele nos ensina, em uma linguagem muito bonita, leve e fácil, que o grau máximo da evolução humana é o puro amor. Para compreendermos o amor, precisamos ter equilíbrio entre nossos dois cérebros: o da cabeça (que é o único que acreditamos ter) e outro, invisível, que fica no peito (e que é o principal). Nosso intelecto serve ao nosso amor e é deste que tudo nasce.

Daí vem a parte mais linda do livro, que me fez compreender a frase "Deus é amor" como eu jamais havia entendido. E não tem nada a ver com religião. Mas não vou contar tudo, para não perder a graça. Eu quero é que vocês leiam.

No fim, cheguei á conclusão de que, provavelmente, o meu subconsciente puxou essa leitura lá da caixinha de memórias da infância e foi daí que surgiu o nome deste blog. Fez muito sentido. Quem me dera poder ter um grau de evolução bem elevado e me aproximar do mais puro amor.

Vou deixar o link do livro aqui.

Eu adoraria que vocês lessem e viessem dividir comigo os seus sentimentos em relação à história.

Boa leitura!

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Primavera em mim



Sinto cheiro de flores no ar!

Hoje, para dar as boas-vindas à tal primavera, São Pedro fez cair um aguaceiro daqueles, e o vento está fazendo barulho nas janelas e no telhado. Mas, mesmo com o céu cinza, há alguns dias ando vendo flores. Por que? Olha, não sei dizer exatamente. Mas é como se minha vida fosse um grande lego e, de repente, as peças estivessem se encaixando harmoniosamente. E daí, ando feliz.

Estive pensando sobre essa felicidade e só pude concluir que felicidade e equilíbrio têm tudo a ver. Quando um pedaço de sua vida está capenga, não dá para ser inteiramente feliz. Conheço gente que está nadando em dinheiro, mas com tantos problemas familiares que nem todas as viagens para a Europa são capazes de trazer a felicidade. Também sei de pessoas que estão bem casadas e em harmonia no amor, mas com grandes dificuldades financeiras. Nenhum deles está plenamente feliz. Mas devo dizer que o amor dá uma tremenda contribuição.

Fala sério. Quem não é feliz amando e sendo amado? Pode até faltar dinheiro por um tempo, mas com amor, as pessoas têm vontade de caminharem juntas e, na batalha da vida, acabam conseguindo se estabilizar em algum momento. E se você fica doente, tem remédio melhor que amor? Amor de mãe, de pai, de marido, de esposa, de filho, até do médico que te atende com carinho. A saúde volta rapidinho. E quando tem briga? Nada além do amor é capaz de convencer o perdão. Há de se ter muito amor para deixar o orgulho de lado e pedir ou aceitar desculpas.

Houve um tempo em que eu não trabalhava com amor. Eu me arrastava até o trabalho, eu era detestada e, por saber disso, também detestava todo mundo. Mas um dia, sei lá de onde, a raiva se foi e alguém plantou amor. Não sei se fui eu ou se foram os outros. Não importa. Alguém plantou, os demais regaram. O fato é que não apenas o prazer em trabalhar voltou, como também o bem querer se instalou em meu ambiente de trabalho. E os colegas viraram amigos dentro e fora da empresa. Trabalhar é bom.

Tem gente por aí que se entrega à doença, ao problema, ao fracasso. Isso é pura falta de amor... próprio. Quem se ama, não se permite sucumbir. A doença pode ser curada. A que não pode, remediada está. Sofrer só antecipa a morte. Com altas doses de amor próprio e dos familiares e amigos, é possível ter dias mais felizes, mesmo estando doente. Afinal, existem duas opções para enfrentar os problemas: sorrindo, ou chorando. Você escolhe.

É bem difícil ter equilíbrio. Nem tudo pode estar bom o tempo todo. Mas não é impossível. Se está faltando alguma coisa em sua vida para te fazer feliz, pare e pense: será que não falta colocar mais amor nessa questão? Será que não é preciso trabalhar com mais vontade, cuidar de seus filhos com mais determinação, fazer exercícios físicos, dialogar com seu(sua) companheiro(a), abrir mão de algumas coisas em prol de outras, deslocar o amor daqui pra lá, de lá pra cá? Alguma peça do lego pode estar faltando, mas ela pode estar logo ali na sala ao lado.

Escrever essas coisas é muito fácil quando as peças estão todas unidas. Até o mau humor matinal está dando um tempo. É bom aproveitar para inspirar os outros. Só sei que a primavera chegou em mim, tenho rosas brotando dos poros (pieguice grau master blaster). Há flores subindo o telhado e embaixo do meu travesseiro. Sou toda amor! Quem quiser, me acompanha...


... para ser mais amor, também!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Como eu seria?



“Cada escolha, uma renúncia, isso é a vida”, já diria o falecido Chorão. É um dos clichês mais verdadeiros que já ouvi. Cada vez que precisamos fazer uma escolha, obviamente precisamos abrir mão de alguma coisa. E, invariavelmente, nossas escolhas nos constroem. Vejo pessoas super orgulhosas dizendo: eu sou hoje fruto de minhas escolhas.

Mas, peraí. Eu não sei se tenho tanto orgulho assim de quem eu sou hoje. Será que as minhas escolhas fizeram de mim uma pessoa realmente legal, ou apenas comum? Será que as coisas que deixei para trás não me fariam ser uma outra pessoa, talvez mais bacana do que eu sou hoje? Será que eu sou bacana? Posso ser chata pra caramba e achar que sou legal. Vai saber.

A questão é que eu me arrependo de muitas coisas que eu fiz e de muitas outras que eu deixei de fazer. Me arrependo muito mesmo. E sempre que digo isso a algum amigo, ouço: “Mas não adianta nada você se arrepender, porque você não pode voltar atrás, então valorize o que você é e tem agora”.

Eu não sofro por causa dos arrependimentos. Não me martirizo pelas coisas do passado. Pode ser que às vezes você me flagre com o pensamento bem longe, fazendo caretas estranhas, ora de raiva, ora de pena. Na verdade, estou dando respostas que eu gostaria de ter dado no passado, mas que só consegui formular coerentemente agora. Estou brigando com algumas pessoas que mereciam ter levado uns gritos. Estou pedindo perdão a pessoas para quem fiz algum mal. Estou me impondo em situações em que me senti diminuída ou injustiçada. Estou apenas consertando em minha cabeça algumas coisas que eu acho que ficaram erradas lá atrás. Mas em momento algum vou me martirizar. O que passou, passou. Se não posso voltar, tento me contentar com os esquetes que monto na imaginação.

Certamente tive experiências valiosas. Até as dolorosas (e principalmente estas) me fizeram crescer. Mas será que era mesmo necessário ter passado por elas? Eu não poderia ser hoje um adulto feliz sem ter passado por certos dramalhões? Ou... será que, para ser mais adulta hoje, para eu me sentir completa e realizada, eu não deveria ter passado por alguns sofrimentos dos quais fui poupada?

Estes questionamentos são constantes em mim. Não consigo evitá-los. Já aprendi a conviver com os meus arrependimentos. O problema é que, agora, tenho a impressão de que estou sempre vivendo para o futuro, e isso tem me preocupado bastante. Estou trabalhando para o futuro, guardando dinheiro para o futuro, esperando concluir certas coisas para só no futuro começar as que eu realmente desejo, porque parece que é necessário organizar tudo agora para só viver plenamente amanhã. E o que isso me causará no futuro? Aposto um real de big big como a resposta certa é: mais arrependimentos.

Eu valorizo o que eu sou e tenho. Mas não consigo parar de imaginar a outra "eu" que poderia existir hoje. Seria casada? Teria filhos? Ou estaria solteira fazendo um mochilão pela Europa? Já teria viajado pelo mundo? Saberia cozinhar? Qual seria minha profissão? Seria rica? Seria pobre? Saberia dançar, pintar, tocar violino? Também penso que deveria fazer escolhas mais ousadas no presente para ser mais feliz agora. Tenho um desejo surreal de sair de mim, sair de meu mundo, ir para uma existência paralela onde eu possa rebobinar ou adiantar a minha vida e ver como eu seria se tivesse tomado outras decisões e como serei com as escolhas que eu fizer agora.

De qualquer maneira, a forma como venho conduzindo os erros e acertos parece uma receita correta de bolo. Nada fantástico, mas nada tão ruim que seja intragável. Só espero conseguir dosar corretamente as pitadas de açúcar, porque o fubá nosso de cada dia pode até sustentar. Mas sem recheio e cobertura, não tem a menor graça.




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O resgate (baseado em uma história real)



Amanda é uma mulher bonita, festeira, alegre. Ela tem dois filhos lindos. O mais novo ainda mama no peito.

Um dia, Amanda estava voltando para casa de carro com o seu marido, quando viu, sentada no chão, uma mulher nitidamente drogada, com um bebê muito magro nos braços. Ela ficou perturbada. Seu coração de mãe gritou no peito e ela pediu ao marido que parasse o carro. Foi andando até a mulher, tirou 10 reais da carteira e entregou para ela, dizendo:

– Tome, compre leite para o seu filho. Ele está visivelmente com fome.

Sem esboçar nenhum sentimento, a mulher pegou o dinheiro e agradeceu.

Amanda voltou para o carro e partiu. Mas seu coração de mãe também se partiu em mil pedaços. O grito acabou escapando do peito:

– Para!!! Para o carro!!! Pelo amor de Deus, volte! Eu preciso voltar lá! Eu preciso pegar aquele menino!!!

O marido disse que não, que ela estava louca, que ele não voltaria. Amanda insistiu, berrou, esperneou, disse que, se ele não voltasse, ela sairia do carro e voltaria lá sozinha. A insistência foi tanta, o desespero foi tão grande, que o marido não teve escolha a não ser dar meia volta.

Pararam novamente na rua em que a mulher estava. Amanda saiu do carro, andou a passos largos na direção dela. Chegando lá, em um impulso feroz, tirou o bebê das mãos da mulher e começou a gritar:

– Como você pode deixar o seu filho nesse estado??? Como você pode vê-lo tão magro, tão faminto, e não alimentá-lo???

A mulher, alterada pelas drogas, esbravejou:

– Você quer esse troço para você? Então leve!!! Leve!!! Isso aí só me atrapalha!!! É um peso na minha vida!!!

Um grupo de pessoas começou a se aglomerar a sua volta. Amanda olhou para o bebê. Ele era tão frágil, tão magro, que era possível contar os ossos de suas costelas. O instinto materno (de Amanda, não da mulher) falou mais alto do que qualquer coisa. Ela puxou a camisa para o lado, colocou o seio para fora e começou a amamenta-lo. O bebê sugou seu seio tão desesperadamente, com tanta vontade, com tanta fome, que Amanda não se conteve e gritou novamente:

– Irresponsável!!! Como pôde? Como pôde???

– Fique com ele então! Leve esse negócio daqui!!! – vociferava a mulher.

– Vou levá-lo mesmo!!!

Amanda deu as costas para a mulher e voltou para o carro com o bebê grudado em seu peito.

A partir dali, começou uma saga que levaria Amanda a passar pelo juizado de menores, por alguns advogados, até chegar ao tribunal. No dia da audiência, na frente do juiz, na presença da mãe biológica do bebê e de todos os demais, Amanda mais uma vez colocou o menino para mamar em seu peito enquanto dizia:

– Senhor juiz. A mãe verdadeira deste menino sou eu! Ele é MEU filho! Sou eu quem o alimento! Eu dou a ele carinho, colo, afeto e tudo o que ele precisa! Eu amo essa criança!

A mãe biológica não fez sequer um pequeno esforço para ficar com o bebê. Confirmou com sua indiferença tudo o que Amanda dizia.

O juiz não precisou pensar duas vezes. Concedeu a guarda da criança a Amanda e deu o caso por encerrado.

Hoje, Pedrinho tem 3 anos, uma casa, uma mãe, um pai, dois irmãos, uma família que o ama mais que tudo, muitos brinquedos e uma energia de cansar qualquer um. Ele é forte, feliz e muito, muito amado! Seus pais se separaram, mas continuam lhe dando todo o amor do mundo e tudo o que uma criança precisa para crescer feliz e saudável.

Ouvi hoje essa história e fiquei tão emocionada, que não pude deixar de contá-la. Os nomes são fictícios e há pequenos floreios meus, mas os acontecimentos são reais. Vi as fotos do Pedrinho, da Amanda, dos irmãos, de toda a família. Eram tantos sorrisos! Amanda ganhou a minha eterna admiração. Estou certa de que, desde aquela primeira mamada, na rua, no dia em que Amanda encontrou Pedrinho, ela o resgatou da miséria e até mesmo da morte. Sou extremamente a favor da adoção, e espero que, assim como Amanda, muitas mães abram seus corações e deixem brotar neles o sorriso de crianças que estão aguardando para também serem resgatadas.

Compartilhem essa história para inspirar as pessoas e, quem sabe assim, teremos mais Amandas no mundo, distribuindo e sendo cada vez mais e mais e mais amor.


domingo, 10 de agosto de 2014

Paternidade




Ultimamente, tenho percebido uma onda muito positiva em relação aos assuntos que envolvem a paternidade. Muitos pais lançaram blogs com dicas e histórias geniais sobre suas experiências com os filhos. Leio várias coisas com as quais concordo e outras tantas que acho estranhas, mas, de uma forma geral eu fico muito feliz em ver que tem muitos homens por aí compreendendo que pai não é só aquele cara legal que fica ali do lado para “ajudar”.

Amo os homens que vivem cada minutinho da paternidade, desde a gravidez até aquele momento, anos depois, em que ele vai abrir os braços para um filho adulto em conflito, mas que ainda cabe no seu colo. Amo os homens que estudam as formas de parir, defendem parto normal porque sabem de todos os benefícios que ele agrega na vida da mãe e do bebê, que leem e estudam sobre nutrição, educação, higiene, saúde, porque se preocupam em como cuidar de seus filhos. Amo os homens que acordam de noite para pegar o menino chorando no berço, não apenas porque sabem que a mãe está esgotada, mas porque compreendem que isso deve ser feito mesmo e ponto final. Amo os homens que veem o filho chateado e sentam do lado dele para saber o que aconteceu e dar todo o seu apoio, seu colo, seus conselhos. Amo aquele pai que faz coreografia nos 15 anos da filha sem medo de ser feliz e acaba se tornando o pai mais legal da turma. E que depois faz outra coreografia no casamento e continua sendo muito legal! Amo os pais que administram os conflitos, que tomam as rédeas das situações, que formam um time imbatível junto com a mãe, e não apenas sentam no sofá e dizem: “resolva lá, na moral...”.

Essa história do “papel do pai” me deixa chateada, porque, na minha opinião, não existem papéis. É tudo uma coisa só. A única diferença é biológica. É a mãe que dá à luz... é a mãe que amamenta. Obviamente que o bebê e a mãe têm laços mais estreitos no começo, por conta do peito, do cheiro, da presença mais constante da mãe, pois, afinal, eles eram um só corpo uns dias atrás. Mas, fora essas questões da mãe natureza, o pai e a mãe têm responsabilidades iguais sobre o rebento.

Quando leio ou escuto alguma mulher dizendo: “Meu marido é ótimo! Ele me ajuda muito com o Joãozinho!” me dá um leve faniquito. Pai não é um secretário. Pai é pai, poxa. Ele não ajuda a mãe... ele respira, come, dorme e lambe a cria, ele se derrete com as risadas, ele chora com as cólicas, ele tira satisfações com o pai do coleguinha que bateu no seu menino, ele escuta e guarda segredos, ele morre de medo quando o menino tem febre e sai correndo para levá-lo ao médico, ele faz o almoço, ele ajuda na lição, ele dá banho, ele faz questão de conhecer os amigos do filho e seus pais, ele participa dos eventos, ele se preocupa de verdade com os sentimentos do filho... e ele divide com a mãe os afazeres domésticos, as dores e os prazeres desta experiência linda que é ter uma família.

Eu não me lembro das fraldas trocadas. Mas eu me lembro de quando meu pai me ensinou a andar de bicicleta, de quando ele me levou e me buscou MIL vezes nas festinhas de adolescente, mesmo às 2 horas da manhã, de quando ele me viu sofrendo de amor e chorou, chorou mesmo, junto comigo, de quando ele me deu umas boas broncas construtivas que me ajudaram demais a moldar o meu caráter, de quando ele chegou em casa feliz da vida contando para minha mãe que eu tirei notas boas na escola nova, de quando ele dançou valsa comigo em minha formatura, de quando ele desabafou comigo em momentos de conflito e ouviu atentamente as minhas opiniões, e de quando ele me olhou e disse “eu te entendo e estou do seu lado”. Meu pai sempre foi um paizão! Ele não cumpriu um papel... ele viveu e sentiu, no corpo e na alma, o ser pai. E, junto com minha mãe, eles formaram um time incrível!

Obrigada, pai, por cada sacrifício feito por mim, e por toda a felicidade que você me dá. Obrigada, mãe, por ter escolhido esse pai para mim (que, além de paizão, é um maridão e um gato! mandou bem, mãe!). Eu gostaria que todo mundo no mundo pudesse ter um pai como o meu, para ser mais feliz, para ser amparado, cuidado, acarinhado, educado, compreendido, embalado...
... para ser mais amor!

Feliz dia dos pais!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Amar é uma arte

Há de se pintar todos os dias a tela com cores variadas. Uma aquarela de riso, abraço, beijo, afago, amor, carinho e atenção. De entendimentos e até de brabezas, pois, sem os cinzas, os amarelos não seriam tão felizes.

Há de se dançar todos os ritmos. Uma coreografia envolvente de braços e pernas, o tango dos lábios, o samba dos corações, o bolero dos cabelos amassados pela manhã, o zouk malemolente de olhares, o balé das mãos, todos os dias, dois para lá e dois para cá.

 Há de se cantar todos os estilos. Às vezes seremos pop, às vezes, super funk. Em alguns dias seremos rock’n roll e, em outros, bastante MPB. Então acordaremos um dia internacionais e poderemos até, por que não, passarmos o dia bregas, para dormirmos bem românticos.

Há de se interpretar sem fingimentos. Que os dramas sejam bem chorados, e as comédias nos façam rir até doer a barriga. Que o suspense nos acelere o coração e a ação nos tire o fôlego. E que no final, sejamos felizes para sempre.

E, enfim, seremos sempre escultores. Esculpindo a argila, dia a dia, consertando as imperfeições, moldando as curvas, alisando as bordas, criando profundidade... até o dia em que secaremos e então nosso amor será jarro de enfeite na prateleira da vida.

Que assim seja...
para sermos sempre mais amor.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Qual é o limite para ajudar alguém?


Ajudar é uma coisa muito boa. Nos anos de escola, eu sempre tirava notas boas e logo ficava de férias. Muitos colegas que ficavam na recuperação me pediam ajuda para estudar. Eu não pensava duas vezes. Naquela época eu não analisava a situação, eu não pensava que, de certa forma, estava perdendo horas de descanso para estudar de novo tudo o que eu já sabia. Eu apenas pensava que tinha alguém precisando de ajuda, e o que se faz quando alguém precisa de ajuda? Você AJUDA, oras.

Há pouco tempo, descobri que basta dar um pontapé inicial numa campanha solidária que aparecem dezenas de mãos amigas para apoiar. Muita gente doa. Alguns doam muito, outros um pouquinho, alguns não têm nada material para doar, então eles “se” doam, colocam a mão na massa, carregam, arrumam, limpam, fazem o que tiver para fazer. Mas, de alguma forma, muita gente aparece, gente que, às vezes, eu nem imagino.

Todas as vezes que alguém ajuda, nasce uma coisa boa dentro de mim. Eu me emociono, de verdade. Tenho uma amiga que sempre pede segredo e me dá uma boa quantia em dinheiro. E todas as vezes, sem exceção, eu choro copiosamente. Não sei explicar o que é isso que eu sinto. Acho que é aquela emoção piegas de perceber que tem gente boa no mundo, que eu não estou sozinha nesse desejo de confortar os outros.

Um dia, o meu chefe, sabendo que eu tinha arrumado cestas básicas para os colegas da segurança da empresa (que não recebiam salário havia três meses) me chamou na sala dele:

- Como é que funcionam esses seus trabalhos solidários?
- Como funcionam? Eu sei que tem alguém precisando de ajuda, então lanço uma campanha e arrecado doações.
- E o que te motiva?
A pergunta me pegou de surpresa. Não é do perfil do meu chefe se interessar por nada em particular que eu faça e que não tenha sido uma ordem direta dele. Parei... pensei um pouco... Não achei nenhuma resposta inteligente e poética para dar e tudo o que consegui responder, foi:
- AJUDAR!
Então ele sorriu e me dispensou (É, eu sei... achei que ele iria puxar uma nota de cem reais da carteira e me entregar... mas ele não fez isso. Mas, para não ser injusta, devo dizer que ele já tinha ajudado com as cestas básicas.)

Enfim. O que eu quero dizer com isso é que eu não tenho um motivo que me faça querer ajudar. Eu apenas acho que é uma matemática muito óbvia. Alguém precisa de ajuda + eu tenho capacidade de ajudar = eu ajudo. Não significa, porém, que eu saia por aí distribuindo alegria para qualquer um que estenda a mão em minha frente. Sempre rola uma pesquisa para obter um mínimo de informações que me façam crer que a necessidade é real.

Acontece que hoje eu quis ajudar alguém. Uma pessoa só, que eu sei que precisa de ajuda. Eu já tinha colocado na cabeça que eu deveria ajudá-la calada, que não era para ninguém saber. Mas, por um lapso de consciência, e já prevendo uma resposta negativa, eu compartilhei o meu desejo com uma pessoa perguntando se ela gostaria de ajudar também, e ouvi um sonoro: “Eu, não!”, seguido de justificativas que, para mim, não são suficientes para me fazerem desistir.

Então eu parei um pouco para refletir: existe limite para ajudar alguém? Existe sim. Meus limites são claros. A pessoa PRECISA de ajuda? Sim? Pronto. O que essa pessoa fez no passado? O que ela anda fazendo ultimamente? Será que ela merece? Olha: devo dizer que não conheço a grande maioria das pessoas que eu ajudo. Se eu fosse fazer uma pesquisa da vida daquele senhor idoso lá no asilo, para saber se ele foi um péssimo pai no passado, e decidir se eu devo ou não dar-lhe um prato de comida, eu gastaria muito tempo, e o senhor morreria de fome.

Se eu conseguir as informações necessárias para decidir se o sujeito merece ou não a minha ajuda, assim o farei. Não sou a bondade personificada. Tenho meus termômetros. Mas se na minha balança os prós superarem de longe os contras, não me importam os pecados da pessoa. Eu farei o possível para ajudá-la. Lembro-me bem de uma palestra que fui no centro espírita (não, eu não sou espírita, eu apenas fui uma vez por curiosidade), quando perguntei se deveria ou não dar dinheiro para o mendigo na rua e a palestrante me respondeu: “Você deve agir como o seu coração mandar. Na hora, você vai olhar para a pessoa e o seu coração lhe dirá se você deve ajudá-la ou não”. E essa resposta guiou cada moedinha que eu doei (ou não) dali por diante.

Eu sei que tem muita gente com vontade de ajudar por aí. Estou rodeada delas e a benevolência brota de todos os lados quando há incentivo. Eu acredito muito fortemente que quem distribui o bem, recebe o bem. E ajudar é bom demais. Portanto eu vou continuar ajudando, independente de conhecer ou não as pessoas, de saber ou não de seus pecados. Eu continuarei ouvindo o meu coração que, até agora, tem acertado na mosca.

Aguenta aí, amigo. A ajuda vai chegar. De algum jeito, ela vai chegar.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

DNA do ouvir





Quando eu era pequena, sempre ouvia minha mãe dizer que as pessoas enxergavam em meu pai um bom ouvinte. Meu pai, sempre calado, discreto, era constantemente procurado por amigos para ouvir os seus desabafos. Lembro-me de um dia vê-lo sentado no sofá da sala, em silêncio, segurando o queixo com uma mão, enquanto um amigo contava um problemão de família. Eu não o ouvia dizer nada. Ele apenas escutava com atenção. Eu achava bonito. Até hoje é assim. Mesmo sem dizer nada, papai passa um ar de segurança que faz com que as pessoas venham até ele para derramar lamúrias. Eu acredito que é porque ele é, de verdade, um bom ouvinte. Não daqueles que apenas sentam lá e escutam o que você diz sem absorver nada. Ele te olha e parece compreender cada sentimento narrado.

Eu acho que nos meus genes vieram algumas partículas do DNA de ouvinte do meu pai. Vez ou outra, alguém me busca para contar algo. Pode ser um segredo, um problema, um acontecimento importante, uma dúvida, um conflito interno. O fato é que elas vêm e eu as escuto. Eu gosto de escutar. Há um tempo eu até era uma boa conselheira. Adorava falar sem parar, expondo as minhas opiniões e colocando-me no lugar do outro para elaborar soluções. Lembrei até de uma história. Eu tinha uma colega da faculdade que era uma romântica incurável, das que sonham com príncipes e cavalos brancos. Ela sofria muito com um amor mal resolvido e eu gastava todo o meu vocabulário em conselhos, falando com uma autoridade como se fosse um ás nos assuntos do coração. Hoje eu me pergunto: que experiência tinha eu para dar tantos conselhos? Acho graça!

Agora, prefiro me alimentar das palavras dos outros do que deixar as minhas escaparem. Fico igual a papai: sento, olho para a pessoa, e simplesmente dou a ela o meu tempo e a minha atenção. Dou mesmo, de presente. “Ei... tome algumas horas minhas e me deixa ouvir o que se passa nessa cachola.” Eu desenvolvi essa habilidade de ouvir e a aprimorei com o tempo, mas juro que foi involuntário. E eu venho percebendo que, com o passar do tempo, quanto mais escuto e menos falo, mais pessoas confiam em mim. Papai estava certíssimo. Nem todo mundo precisa de uma enxurrada de conselhos. Às vezes, alguém quer apenar expulsar a dor da alma, para ver se abranda, ou para ver se do lado de fora as palavras embaralhadas na cabeça fazem mais sentido. E nem sempre você tem a coisa certa para dizer naquele momento. Aí, o melhor mesmo é ficar em silêncio. O silêncio, nestas situações, pode ser um grande amigo. Quando não o silêncio, que sejam ditas palavras sinceras, mas com cuidado, com prudência. Porque às vezes, a verdade mal dita machuca, mas a mesma verdade dita com amor faz refletir e acalma o coração.

É preciso ouvir com atenção e dizer apenas o estritamente necessário...
... para ser mais amor.