Ajudar é uma coisa muito boa. Nos anos de escola, eu sempre
tirava notas boas e logo ficava de férias. Muitos colegas que ficavam na
recuperação me pediam ajuda para estudar. Eu não pensava duas vezes. Naquela
época eu não analisava a situação, eu não pensava que, de certa forma, estava
perdendo horas de descanso para estudar de novo tudo o que eu já sabia. Eu
apenas pensava que tinha alguém precisando de ajuda, e o que se faz quando
alguém precisa de ajuda? Você AJUDA, oras.
Há pouco tempo, descobri que basta dar um pontapé inicial
numa campanha solidária que aparecem dezenas de mãos amigas para apoiar. Muita
gente doa. Alguns doam muito, outros um pouquinho, alguns não têm nada material
para doar, então eles “se” doam, colocam a mão na massa, carregam, arrumam,
limpam, fazem o que tiver para fazer. Mas, de alguma forma, muita gente
aparece, gente que, às vezes, eu nem imagino.
Todas as vezes que alguém ajuda, nasce uma coisa boa dentro
de mim. Eu me emociono, de verdade. Tenho uma amiga que sempre pede segredo e me
dá uma boa quantia em dinheiro. E todas as vezes, sem exceção, eu choro
copiosamente. Não sei explicar o que é isso que eu sinto. Acho que é aquela emoção
piegas de perceber que tem gente boa no mundo, que eu não estou sozinha nesse
desejo de confortar os outros.
Um dia, o meu chefe, sabendo que eu tinha arrumado cestas
básicas para os colegas da segurança da empresa (que não recebiam
salário havia três meses) me chamou na sala dele:
- Como é que funcionam esses seus trabalhos solidários?
- Como funcionam? Eu sei que tem alguém precisando de ajuda,
então lanço uma campanha e arrecado doações.
- E o que te motiva?
A pergunta me pegou de surpresa. Não é do perfil do meu
chefe se interessar por nada em particular que eu faça e que não tenha sido uma
ordem direta dele. Parei... pensei um pouco... Não achei nenhuma resposta
inteligente e poética para dar e tudo o que consegui responder, foi:
- AJUDAR!
Então ele sorriu e me dispensou (É, eu sei... achei que ele
iria puxar uma nota de cem reais da carteira e me entregar... mas ele não fez
isso. Mas, para não ser injusta, devo dizer que ele já tinha ajudado com as
cestas básicas.)
Enfim. O que eu quero dizer com isso é que eu não tenho um
motivo que me faça querer ajudar. Eu apenas acho que é uma matemática muito
óbvia. Alguém precisa de ajuda + eu tenho capacidade de ajudar = eu ajudo. Não
significa, porém, que eu saia por aí distribuindo alegria para qualquer um que
estenda a mão em minha frente. Sempre rola uma pesquisa para obter um mínimo de
informações que me façam crer que a necessidade é real.
Acontece que hoje eu quis ajudar alguém. Uma pessoa só, que
eu sei que precisa de ajuda. Eu já tinha colocado na cabeça que eu deveria ajudá-la
calada, que não era para ninguém saber. Mas, por um lapso de consciência, e já
prevendo uma resposta negativa, eu compartilhei o meu desejo com uma pessoa perguntando
se ela gostaria de ajudar também, e ouvi um sonoro: “Eu, não!”, seguido de
justificativas que, para mim, não são suficientes para me fazerem desistir.
Então eu parei um pouco para refletir: existe limite para
ajudar alguém? Existe sim. Meus limites são claros. A pessoa PRECISA de ajuda?
Sim? Pronto. O que essa pessoa fez no passado? O que ela anda fazendo
ultimamente? Será que ela merece? Olha: devo dizer que não conheço a grande
maioria das pessoas que eu ajudo. Se eu fosse fazer uma pesquisa da vida
daquele senhor idoso lá no asilo, para saber se ele foi um péssimo pai no
passado, e decidir se eu devo ou não dar-lhe um prato de comida, eu gastaria
muito tempo, e o senhor morreria de fome.
Se eu conseguir as informações necessárias para decidir se o
sujeito merece ou não a minha ajuda, assim o farei. Não sou a bondade
personificada. Tenho meus termômetros. Mas se na minha balança os prós
superarem de longe os contras, não me importam os pecados da pessoa. Eu farei o
possível para ajudá-la. Lembro-me bem de uma palestra que fui no centro
espírita (não, eu não sou espírita, eu apenas fui uma vez por curiosidade),
quando perguntei se deveria ou não dar dinheiro para o mendigo na rua e a palestrante
me respondeu: “Você deve agir como o seu coração mandar. Na hora, você vai
olhar para a pessoa e o seu coração lhe dirá se você deve ajudá-la ou não”. E
essa resposta guiou cada moedinha que eu doei (ou não) dali por diante.
Eu sei que tem muita gente com vontade de ajudar por aí.
Estou rodeada delas e a benevolência brota de todos os lados quando há
incentivo. Eu acredito muito fortemente que quem distribui o bem, recebe o bem.
E ajudar é bom demais. Portanto eu vou continuar ajudando, independente de conhecer
ou não as pessoas, de saber ou não de seus pecados. Eu continuarei ouvindo o meu
coração que, até agora, tem acertado na mosca.
Aguenta aí, amigo. A ajuda vai chegar. De algum jeito, ela
vai chegar.