Estava relendo meus
textos.
Engraçado. A gente
muda, né? Ainda bem.
Resolvi fazer terapia.
Vou contar.
Em 2015 eu estava
frustrada profissionalmente. Bastante. Chegou um momento em que comecei a me
questionar sem parar se era aquilo mesmo que eu queria. Não era. Algo estava
fora do lugar.
Era eu. Eu estava fora
do lugar.
Saí em busca de outro
emprego, algo que tivesse mais a minha cara, algo que me motivasse a acordar e
sair de casa. Acho que o problema não era nem a minha profissão em si, e sim o
lugar onde eu estava trabalhando, o clima, a falta de perspectivas, a falta de
desafios, as pessoas que me rodeavam. Esse lance de energia, sabe? Rola muito
comigo.
Busquei e consegui.
Foquei no inglês que é minha segunda língua e com a qual eu sempre amei
trabalhar. Foquei em crianças, com quem sempre tive conexão, acho que por carregar
uma dentro do peito. Pedi para ser demitida do meu antigo emprego (nunca vou
esquecer a cara de tristezinha do rapaz que me entregou a carta de demissão, colocando
a mão em meu ombro e me perguntando se “tá tudo bem”. Tá, meu querido. Tá tudo
ótimo!). Chorei. Abracei alguns. Parti.
E entrei num universo
infantil bilíngue. Cada dia um novo dia. Cada dia um novo desafio. Uma mistura
de emoções que acho que só entende quem tem criança perto. Imagina eu, então,
verde nessa nova vida, com 18 pequeninos entrando numa escola bilíngue, 11
deles pela primeira vez. Três, quatro anos de idade e caindo de paraquedas numa sala
colorida, com duas professoras falando outra língua. Foi um mês de enxugação de
lágrimas, colo e afago. Eles estavam com medo, eu estava com medo. Mas caminhamos
juntos. Não sei se era eu quem segurava as mãos deles ou se eram eles que seguravam
as minhas. Só sei que deu muito certo.
Um ano de alegria e
risada. Coisa mais linda de se viver. Mãozinhas aprendendo a usar lápis e
tesouras, um mundo de descobertas. Eu descobria tudo junto também. Litros de
tinta guache e cola. Quilos de papel colorido e purpurina. Nunca imaginei que
rolo de papel higiênico tivesse tantas utilidades! E no fim do ano, vejam só... todo mundo
entendendo aquela língua maluca!
Acabou-se o primeiro
ano. Chorei muito. Eu fui feliz demais.
Chegou o ano seguinte.
Nova turma. Novos serezinhos.
Cara...
Os desafios foram
muito grandes. Eu não estava pronta para aquilo. Levei uns tapas na cara, da
vida e de crianças também, e foram esses últimos aí que me levaram pra terapia.
Como lidar? Como conseguir me colocar no lugar do adulto e não deixar minhas
emoções tomarem conta na hora do conflito? Lá estava eu aprendendo de novo com
eles. Mas eu precisava de ajuda, senão não conseguiria ajudá-los.
Muita terapia. Muitas
lágrimas. Todo aquele processo de buscar dentro de si as respostas que você já
tem, mas que só enxerga quando o terapeuta te conduz até o interruptor. Muito
louco.
O processo terapêutico
me ensinou coisas muito úteis. No fim das contas, fui em busca de ajuda para
resolver uma questão e resolvi muitas (psicólogos, vocês são foda).
Agora, relendo meus
textos, eu vejo algumas coisas que eu consertei dentro de mim. Não totalmente,
porque é difícil, né? Sempre ficam resquícios do que acompanhou a gente a vida
inteira. Mas acho que o importante é que agora eu tô vivendo pro agora. Parei
com a noia. Parei com o lance de viver exclusivamente com o pensamento no futuro... até porque o meu agora é o futuro de três anos atrás
quando escrevi aqueles textos lá. Se eu não viver agora, eu vou viver quando? Hoje eu doso grandes pitadas do aqui e agora com pitadas comedidas e responsáveis para um logo ali mais adiante.
É isso. Acho que foi
essa a mudança principal. Fora outras coisas importantes que vieram no pacote
como parar de me importar muito com a opinião alheia (mas de vez em quando
ainda derrapo nessa). Parei de me pré-ocupar demais. Aceitar o que eu tenho e
quem eu sou foi um aprendizado enorme e libertador. E sigo assim.
Aprendi a controlar mais
as minhas emoções e me conectar com as emoções das crianças. Na verdade, esse
exercício é diário. Cada criança carrega um mundo em si. E esse ano voltei a
ficar com a turma de dois anos atrás, a primeira de todas. Estão grandes e
perdendo os dentes. Lindos e amorosos e ainda mais espertos que antes. Eu sou
só admiração. (Derrubei muitas lágrimas também quando acabou o ano mega desafiador... mas foram lágrimas carregadas de muitos sentimentos diferentes.)
Agradeço às crianças
que me levaram à essa busca de respostas. Crianças também são um enoooorme
exercício de auto-conhecimento, auto-controle, amor e equilíbrio. Conviver com
elas faz você refletir muito sobre a criança que você foi e o que seus pais
fizeram por/com você. Terapeutas-mirins.
Em breve volto. Tenho
muito a relatar. Esse tempo de silêncio foi um tempo rico em emoções.
Mas o amor, dentre
todas, prepondera.
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