Fiz balé por cinco anos, dos
7 aos 12 e estendi pelo jazz até os 15, quando parei de vez. Durante os últimos
15 anos me aventurei por diferentes exercícios físicos como musculação,
patinação artística, dança de salão, circo, esgrima, yoga... mas nenhum deles
me deixou mais gostosa ou disposta ou feliz (tirando a dança de salão que me
deixou apenas muito feliz). Então, este ano, aos 30, decidi voltar para o balé.
Entrei numa aula de balé fitness, uma mistura de balé com ginástica localizada.
E estava bem feliz. Então a escola abriu uma turma de balé iniciante adulto e
eu me joguei. Foi a escolha mais acertada do ano.
Fazer uma atividade que lhe
dá prazer e alegria é realmente maravilhoso. Entrei com toda a humildade
permitida pelos meus dez quilos de ferrugem e, aos poucos, fui percebendo que o
corpo se lembrava de algumas coisas.
Tenho uma colega fofa
chamada Thelma, uma senhora cuja filha bailarina a convenceu de entrar na
dança. Tem também Victor, um menino lindo que nunca fez balé, mas tem tanta
sede de aprender que chegou a me dizer que "seria capaz de ficar o dia
inteiro repetindo esses exercícios até conseguir". E tem Débora, uma
menina bonita que deve ter mais ou menos a minha idade e, como eu, é uma
regressa. Sem esquecer, claro, da professora Marília, linda e poderosa, com um
astral fenomenal, que parece ter dentro do peito um saco infinito de alegria de
ensinar. Professor que ensina com alegria é o que há!
Pois então, dois meses
depois de retornar ao balé, Marília me convidou para participar do festival que
seria no último fim de semana de novembro. Fiquei meio na dúvida, me bateu uma
insegurança. O espetáculo seria O Mágico de Oz. Como poderia eu, depois de 15 anos, subir no palco e dançar de novo? Marília disse que eu seria capaz,
que me colocaria em um grupo de adolescentes que estava ensaiando uma
coreografia linda de "floresta". Pensei: perfeito! Nada melhor do que
voltar a dançar no palco com pessoas que têm a metade de minha idade e ainda
fazendo o papel de uma árvore! =P
No dia em que cheguei
pensando em recusar o convite, Marília me olhou com um sorrisão e disse:
"Que bom que você chegou! Não veio ninguém da sua turma, então vou lhe
ensinar a coreografia!". E desisti de desistir.
Comecei a sair mais cedo do
trabalho um dia da semana para conseguir ensaiar com o grupo inteiro. Eram
pessoinhas realmente novas. Dei uma avaliada geral e conclui que a pessoa mais
velha depois de mim devia ter uns 18 anos. Mas confesso que ali, no meio delas,
meio que aproveitei a minha cara de menina e me camuflei de adolescente.
Ninguém ousou duvidar. Também super disfarcei a minha dificuldade em executar
alguns movimentos e fiquei aliviada quando descobri que, assim como eu, outras
pessoas estavam ficando com os joelhos roxos por causa de alguns passos da
coreografia em que era necessário ajoelhar-se. Não era velhice, eram só os
ossos salientes.
A coreografia era fofa. Nada
muito complicado como nas coreografias estupendas do programa Dance Moms que eu
estou acostumada a assistir. Mas também nada bobo. Apenas o ideal para uma véia
enferrujada.
Lá para as tantas, após
alguns dias de ensaio, um grupo de zumba chamou Marília para ver a coreografia.
Fui junto. Eram mulheres mais velhas, algumas da minha idade. A coreografia era
tão enérgica que me cativou e eu quis muito dançar. O professor topou, Marília
incentivou, e lá estava eu no meio da zumba, sem nunca ter feito uma aula
sequer.
Os ensaios prosseguiram, se
intensificaram, conheci os outros grupos, os demais alunos, e então descobri
que estava em uma escola de dança incrível, com bailarinos incríveis e fiquei
extremamente feliz. As coreografias eram lindas, os bailarinos excelentes. A
cada salto e pirueta meus olhos brilhavam mais. Acho que ainda não é tarde
demais para eu conseguir fazer um salto ou pirueta daqueles. Eu espero que não
seja.
Pensei em não convidar
ninguém para ver o festival além de meu namorado e minha irmã. Mas depois mudei
de ideia. Convidei os amigos mais próximos. E lá fui eu com minha sacola cheia
de maquiagem e gel de cabelo para o dia do festival.
Reviver a atmosfera de um
festival de balé me fez lembrar de tantas coisas boas da infância, me deixou
tão preenchida que eu tive a certeza de que jamais deixaria de fazer o que me
faz feliz. Aquela deliciosa confusão nos camarins, os coques, os cabelos
esticados com quilos de gel, as sapatilhas de fita, as maquiagens, o silêncio
nas coxias, o frio na barriga segundos antes de entrar no palco, as luzes, os
aplausos, tudo isso me fez sentir mais viva e completa. Ver a empolgação das
crianças, os personagens da história com figurinos e maquiagem tão impecáveis,
meio que me fez ser criança de novo. Dorothy, o Leão, o Homem de Lata, o
Espantalho, foram me levando por aquele mundo de fantasia. Tudo muito lúdico,
muito leve, muito lindo.
Quando terminou o festival e
as cortinas se fecharam, é óbvio que chorei. Fui para o camarim me trocar,
deixei todo mundo sair primeiro e fiquei por lá, ainda digerindo a emoção.
Quando saí, encontrei Marília na porta e ela me perguntou com aquele sorriso de
sempre: "E então? Como foi?". "Chorei de emoção!" respondi.
"Claro! Foi o seu retorno, né?", ela disse, me compreendendo. Dei-lhe
um abraço apertado e agradeci por ter me encaixado de alguma forma naquilo
tudo. Ela me agradeceu por ter aceitado suas propostas.
Como não podia deixar de
ser, quando cheguei do lado de fora, meus amigos em coro me aplaudiram e
gritaram. Amigo é tudo nessa vida. Ganhei muito beijo, muito abraço, muitos
parabéns e lindas rosas do namorado. E por mais que meu desempenho não tenha
sido essa coisa toda, é claro que eles, como bons melhores amigos, disseram que
fui a pessoa mais brilhante daquele palco. Faz parte.
Estou realizada, estou mais
disposta, estou mais feliz. Eu já tinha me esquecido do quanto é importante
fazer coisas que realmente nos fazem bem. Viver por viver na rotina de todos os
dias é chato. Viver e fazer algo que lhe preenche de felicidade, isso sim é
viver! Depois de anos dizendo que voltaria a dançar, finalmente eu voltei, e
agora não pretendo sair nunca mais. Dançar é tudo de bom!
Que penna que eu não estava aqui, perdi...este instante maravilhoso de sua vida, chorei ao reler e lembrei-me também que eu vivia estas emoções juntamente com vc e sua turminha lá em Ilhéus quando criança. Parabéns! nunca é tarde para ser feliz.....
ResponderExcluirHá muito tempo seu pai tentou fazer um comentário e não conseguiu, não sei o que deu errado depois, eu fiz o comentário e saiu o nome dele. que seja no meu nomeo no nome do seu pai , assistimos seu segundo festival e adoramos!!! Não queremos mais perder nenhum...Vc é uma bailarina brilhante, continua nos encantando . Parabéns!
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